não temos telefone

Nos primeiros anos de nossas atividades, quando éramos ainda um grupo sem existência formal, algumas vezes o plano espiritual nos brindava com enriquecedoras experiências que ocorriam fora de nossa sede ou do horário de nossos trabalhos mediúnicos. Sempre estivemos bem conscientes dos riscos da atividade mediúnica desenvolvida nessas condições, mas os casos a que nos referimos ocorreram sempre por iniciativa de entidades espirituais, nunca nossa.
E redundaram sempre em mais conhecimento, mais aprendizado, mostrando que eles tinham objetivos nobres.

Em fevereiro de 1995, Pércio Branco, um de nossos médiuns estava em seu local de trabalho, desenvolvendo tarefas totalmente ligadas à sua atividade profissional, quando recebeu um pedido de Pedro La Rosa, um amigo desencarnado alguns anos antes, marido de outra médium do grupo. Pedrinho, como era chamado pelos amigos, já se manifestara várias vezes nas nossas sessões mediúnicas, mas aquela vez, além de fazê-lo em hora e local inesperados, surpreendeu muito mais pela natureza do pedido que fez.

Disse ele ao médium que a equipe espiritual à qual pertencia precisava de um favor da equipe encarnada. Queriam que localizássemos um homem chamado Marco Aurélio da S. B. (omitimos seu sobrenome por não termos autorização para divulgá-lo) e o levássemos na próxima sessão mediúnica que fosse realizada. Motivo: um filho de Marco Aurélio, já desencarnado, desejava falar com ele.

Em nenhum momento Pércio pensou em deixar de atender ao pedido, mas logo duas dúvidas vieram à sua mente: 1ª – Não seria muito mais fácil para a equipe desencarnada localizá-lo ? 2ª – Se Marco Aurélio não fosse localizado através da lista telefônica, como procurá-lo ? Quanto à primeira questão, Pedrinho respondeu que sim, que seria mais fácil para eles, mas que nem tudo podia ser feito da maneira mais fácil. Em relação à segunda indagação, ele disse que a equipe de médiuns devia fazer o que lhe fosse possível.

A busca começou logo, através da lista telefônica. Havia cinco pessoas chamadas Marco com segundo nome iniciado com A ou chamadas Marco Aurélio, mas com primeiro sobrenome diferente. Feitos os contatos telefônicos, concluiu-se que Marco Aurélio não era nenhuma delas.

No dia 11 de março, numa reunião do grupo, foi comunicado a todos os presentes o pedido recebido, e perguntou-se se conheciam alguém com aquele nome. Ninguém conhecia, mas uma das médiuns disse que tinha uma colega cujo sobrenome acreditava ser da Silva Braga e que iria falar com ela. Essa médium, certamente não por acaso, era Alba La Rosa, viúva de Pedrinho, o amigo que enviara o pedido do plano espiritual.
Alba falou com sua colega e voltou com informações desanimadoras: o último sobrenome da colega era Braga em razão do casamento e o primeiro, não era Silva.

Já se passara um mês, mas Alba decidira levar a busca adiante junto com Pércio.

Mais tarde, ela lembrou que conhecia uma funcionária pública que, em razão do seu cargo, tinha acesso a vários bancos de dados, como cadastro de eleitores, prontuários do Detran, etc. Decidiu falar com ela e saber se poderiam ajudar na busca. Essa amiga, não por acaso, era irmã de Pedro La Rosa, nosso amigo desencarnado que trouxera o pedido.

Passado mais um mês, em 9 de abril, Alba informou que havia conseguido, com sua cunhada, o endereço de Marco Aurélio e decidiu ir vê-lo junto com o Pércio no dia seguinte. Foram lá, mas ficaram sabendo que ele se mudara havia já oito ou nove anos. A vizinha que deu essa informação acrescentou que, ao se mudar, ele tinha quatro filhos e que seu pai era aposentado pela Justiça Federal.

Sem desanimarem, voltaram e Alba tornou a procurar a irmã do Pedrinho, agora para saber se tinha como descobrir o endereço do pai de Marco Aurélio, cujo primeiro nome a vizinha forneceu, mas em dúvida se será Venâncio ou Florêncio.

O endereço dele foi obtido, e em 9 de maio, já com três meses de busca, Pércio foi falar com ele. Infelizmente, não havia ninguém em casa. Mas, uma vizinha confirmou que o pai de Marco Aurélio morava ali, e que o filho talvez morasse junto.
Após mais uma semana, no dia 15 de maio, finalmente Pércio conseguiu falar por telefone com Marco Aurélio, com quem marcou em encontro, para aquele mesmo dia. Ele trabalhava – quem diria ! – a apenas algumas centenas de metros da residência de Pércio.

Marco Aurélio ouviu a historia atento e aparentemente sem muita surpresa e prontamente dispôs-se a ir à nossa próxima reunião. Disse que era espírita, como seus pais, mas que não tinha nenhum filho falecido nesta encarnação.
A reunião seguinte foi no dia 20 daquele mês, mas Marco Aurélio não compareceu. Ficamos decepcionados, afinal havíamos procurado muito por ele, durante mais de três meses. Mas, fizéramos o que nos fora pedido e estávamos coma consciência em paz.

Quando os trabalhos já estavam adiantados, porém, Nelson, um dos médiuns, incorporou uma entidade que, em tom enérgico e autoritário, perguntou:

– Onde está Marco Aurélio da S. B. ?
O doutrinador explicou-lhe que ele havia sido convidado a participar dos trabalhos, dissera que viria, mas infelizmente não viera e nós lamentávamos isso.

O espírito prosseguiu então, sempre em tom autoritário, dizendo que Marco Aurélio tinha uma dívida com ele e que queria acertar aquilo. O doutrinador, como se faz nesses casos, mostrou-lhe que isso era coisa de um passado distante, que ele devia perdoar, que todos erramos, etc. O espírito mostrou-se relutante com relação ao perdão, mas disse que iria “pensar no caso”.

Os trabalhos mediúnicos prosseguiram e quase no final, o mesmo espírito voltou e disse, agora em tom mais calmo e mais conciliador:

– Digam ao Marco Aurélio que eu resolvi perdoar ele e que não vou incomodar mais.
E assim entendemos por que nem tudo, no plano espiritual, pode ser feito da maneira mais fácil. Aquele espírito, ao que tudo indica um filho de Marco Aurélio em outra vida, precisava daquela conversa com sua presença. Felizmente, falaram mais alto seus sentimentos mais nobres e sua capacidade de perdoar.